Páginas

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

"Cidades em Transição" apresenta alternativa frente aos desafios globais

Em resposta à crise do petróleo, à instabilidade econômica e à destruição de ecossistemas, diferentes movimentos sociais e ecológicos passaram a emergir, no início do terceiro milênio, ancorados nos princípios da permacultura. Entre os diversos, destaco o movimento Cidades em Transição (Transitions Towns ) por criar uma rede popular de comunidades engajadas em transformar cidades em modelos mais sustentáveis. O projeto foi fundado em 2006 e disseminado pelo inglês Rob Hopkins, cujo objetivo inicial era mobilizar a população local da cidade inglesa de Totnes, onde reside, para questões relacionadas à crise energética e às mudanças climáticas.

A ideia do Cidades em Transição tem se expandido rapidamente para mais de mil comunidades em todo o mundo– bairros em Portugal, favelas no Brasil, comunidades rurais na Eslovênia, locais urbanos na Grã-Bretanha, cidades na Austrália e ilhas ao largo da costa do Canadá, só para citar algumas localidades. Todas as comunidades iniciaram projetos nas áreas de alimentação, transporte, energia, educação, habitação, resíduos e artes como pequenas respostas locais para grandes desafios globais, tais como mudanças climáticas, dificuldades econômicas e fontes de energia. A Brasilândia, por exemplo, foi o primeiro movimento de transição em uma comunidade de baixa renda no Brasil. Ela é formada por 110 favelas reunidas na zona norte da grande São Paulo e é considerada a maior favela urbana da América do Sul.



O movimento reconhece que uma possível falta súbita de recursos energéticos implicaria num choque drástico para as cidades. O “Pico do Petróleo” (correspondente ao período em que a máxima produção petrolífera mundial é atingida), inevitavelmente será seguido de seu esgotamento, enquanto energia não renovável, e isto afetará todas as regiões geográficas do planeta. Os Estados Unidos, por exemplo, vem sofrendo declínio incessante de sua produção desde 1970. A previsão de esvaziamento dessa fonte energética já havia sido feita em 1956 pelo geólogo da Shell M. King Hubbert e, por esse motivo, o pico do petróleo também é conhecido como “Pico de Hubbert”. Por essa e outras razões, instaurou-se a necessidade de treinar comunidades para um modelo de transição que pudesse reconstruir com urgência sua resiliência (capacidade de um sistema em resistir a choques externos) e para reduzir drasticamente as emissões de CO2.

Nesse sentido, Albert Einstein popôs uma importante reflexão que enfatiza a premissa vital dos grupos constituídos pelo Cidades em Transição:  “Um problema não pode ser resolvido no nível em que ele foi criado”. Essas cidades, por trabalharem comunitariamente, promovem ações significativas. Mesmo em pequena escala, suas respostas podem se transformar em grandes resultados. Que o exemplo sirva para que governos, empresas e nós todos vislumbremos caminhos possíveis para mudanças necessárias a uma forma de vida menos dependente de fontes energéticas não renováveis, mais sustentável e com mais qualidade para o planeta como um todo.

(Grace Bender)

* Texto publicado na coluna ECO LÓGICO! do jornal Gazeta do Sul.


Nenhum comentário:

Postar um comentário